quarta-feira, 18 de junho de 2025

Brincar às casinhas

Tenho ao longo dos anos adquirido várias caixas com conjuntos de cozinha ou sala destinadas a brincadeiras de meninas, algumas já aqui apresentadas. São conjuntos fabricados em Portugal, na grande maioria de meados do século XX. São normalmente reproduções simples de objectos em uso na época. 

Fiquei por isso surpreendida ao ver esta caixa com utensílios destinados à decoração de uma mesa, com tantos pormenores. O objecto em causa faz parte da colecção do Dr. Carmelo Aires que me permitiu fotografá-lo. Aparenta datar do início do século XX e pormenores, como o papel destinado ao menu e o guardanapo com a sua argola, tornam-no raro. 

O uso do alumínio, que se generalizou no final do século XIX, e que ocupou um lugar importante na cozinha (utensílios vários) e na mesa (sobretudo em talheres), remetem-nos para essa época de deslumbramento pelo novo metal. Na tampa da caixa pode observar-se que se trata de um produto de fabricação francesa (C.B.G.), com múltiplos prémios ganhos em Exposições Universais, desde 1878 a 1900, a grande Exposição de Paris. 

Um presente de luxo na época.

 

terça-feira, 10 de junho de 2025

Um cartão pop-up

 

À primeira vista parece um cartão normal, com uma temática infantil, a Branca de Neve e os Sete Anões, acentuado pela letra de menina que escreveu nele o  nome da amiga (“para a Lúcia”).

Quando se abre percebe-se que é uma carteira de agulhas especial. Para a menina, está visto, que devia aprender a cozer e a bordar desde pequenina.  

Ao abri-lo temos a surpresa de visitar o interior da casa onde vive a Branca de Neve e os seus sete amigos. Completa: com o quarto com as caminhas alinhadas, a cozinha com o grande forno e, em relevo, a mesa onde todos se sentam para comer.

Nas costas, acentuando a infantilidade, dois gatinhos que brincam com novelos de lã. 

É nestas alturas que regressamos à infância.

quinta-feira, 5 de junho de 2025

Um “Pantagruel” espelho da alma

 

Este livro em péssimo estado, com lombada arrancada, folhas soltas, etc. suscitou-me várias sensações. Na realidade, só um livro de culinária se permite chegar a este estado. Provavelmente acarinhado no início, foi tantas vezes consultado que se desmoronou.

Dificilmente um romance sofre um estado de degradação semelhante, ainda que lido várias vezes. E se tal acontecesse seria descartado. Mas os livros de culinária estão habituados a tractos de polé. Consultados em ambiente hostil como é uma cozinha, próximos de alimentos, raramente escapam à aquisição de nódoas. Muitos chegam-me à mão bastante deteriorados, a necessitar de encadernação e transformam-se em belezas. Mas neste estado, acho que nunca vi.

Como a minha saúde não tem sido a melhor, olhei para ele e solidarizei-me com o seu estado. Este vai ficar assim. Fica na classe dos “atados” que ultimamente me têm chegado à mão: atados de receitas; atados de cartas, etc. Uma união espiritual de semelhantes. Já sei que vão pensar que não é o que se espera que se diga de um velho livro de receitas. São dias.

quinta-feira, 15 de maio de 2025

Uma ementa dos anos 20

 

Fiquei entusiasmada com esta ementa de um grupo, aparentemente fundado em 26 de Novembro de 1922, designado “Grupo dos 15 amigos de S. Bento”.  O jantar realizou-se em 11 de Janeiro de 1925 e era o 8º jantar de confraternização, pelo que posso supor que teria tido lugar duas vezes por ano.

Os promotores da iniciativa foram João Alves e António Branco, mas infelizmente não consegui descobrir a que se dedicava esta associação. A ementa apresentava uma fotografia de qualidade, provavelmente relacionada com o grupo, onde se podia ver o antigo Arco de S. Bento.

Este arco foi construído em 1758, na Rua de S. Bento, levando ao abastecimento de água da zona, incluindo o Convento de S. Bento, actual Palácio da Assembleia. Em 1938, forma feitas obras na zona que levaram ao seu desmantelamento e, em 1993, foi reconstruído e passou a ocupar um espaço estranho e desadequado na Praça de Espanha, onde ainda se encontra.

Vejamos então o “Menu” que é descrito de forma humorística com designações que nos remetem para o espírito bem-humorado deste tipo de associações. Ficamos a conhecer a ordem da refeição mas no que respeita à confecção é um mistério dadas as designações usadas.

O jantar teve lugar no Restaurant Sport, em Sete Rios, em Lisboa. Esta designação à francesa, só começou a divulgar-se em Lisboa depois de 1870, usando-se em vez disso a designação de “casa de pasto”, enquanto o café era designado “botequim”. Ao consultarmos o Novo Guia do Viajante em Lisboa, de 1872, escrito por Júlio Cesar Machado, no que respeita aos hotéis, casas de pasto, botequins ou cafés, encontramos referência a um total de 46 estabelecimentos, mas apenas três destes se designavam “restaurant”.

Estávamos agora na década de 1920, e a designação à francesa mantinha-se. Infelizmente não consegui encontrar qualquer informação sobre o estabelecimento, mas a designação remete-nos para um gosto sobre o desporto que começava a despontar.

Uma pequena foto no cimo da fotografia deixa-nos ainda a dúvida de quem se tratará. De um dos promotores? Do fundador da associação dos 15 amigos?

Por aqui nos ficamos, pelo menos por agora.

 

terça-feira, 8 de abril de 2025

Marylin Monroe em triplicado

 

Ementa desdobrável

Este conjunto dos três elementos certamente que pertenceu a algum admirador de Marylin Monroe, que não é difícil encontrar. Trata-se de duas cartas de restaurante, de comidas e de bebidas e de um envelope de cartas.

Provavelmente até nem era um coleccionador de ementas mas não resistiu ao apelo da imagem desta estrela luminosa. As cartas de restaurante são mais difíceis de adquirir que as ementas, pelo que as que surgem são mais frequentemente roubadas.

Carta de vinhos

O restaurante em causa já não existe há, pelo menos, 10 anos e sobre ele nada descobri. A sua história também não devia ir além do título. Situava-se no Hotel Holiday Inn junto ao aeroporto de Paris-Orly.

A embalagem com papel de carta, com a imagem velada da artista que se repete no interior do envelope, é daquelas coisas que compramos, como acontece com algumas agendas e que achamos bonitas demais para uso. Ficam intactas.


Como conjunto é interessante, devido à presença da imagem da sempre fascinante Marylin Monroe. Não será a ementa a despertar qualquer curiosidade, seguramente.
Papel de carta e envelopes com a sombra de Marylin Monroe





segunda-feira, 17 de março de 2025

Museu virtual: Suporte com facas de fruta

 

Nome do Objecto: Suporte de facas de fruta

Descrição: conjunto de 12 facas de fruta com cabos em porcelana não identificada e com lâminas em bronze. Com o suporte metálico e pé em porcelana.

 Material: Cerâmica e metal.

 Época: Cerca de 1900.


Marcas: apenas presentes na lâmina da faca.

Origem: adquirido no mercado português.

 


Grupo a que pertence: equipamento culinário.

 Função Geral: serviço de mesa.

 Função Específica: usada para fruta ou queijo no final da refeição.

 Nº inventário: 5577.

Objectos semelhantes: encontramos outras peças da época marcadas Meissen e com desenhos “blue onion”. Existem igualmente modelos em leque, em vez desta disposição circular.

Observações: Tipo de facas usadas no século XIX em vários países. Era considerada uma peça luxuosa. No século XVIII haviam já surgido facas de fruta, mas articuladas (tipo canivete), frequentemente com os cabos em marfim.


terça-feira, 4 de março de 2025

O final do Carnaval

 

Não tendo sido atingida pela alegria carnavalesca, descobri hoje esta imagem de A Paródia de 1901, alusiva à época.

Na capa pode ver-se a estação do Entroncamento onde se cruzam dois comboios. O da direita com os foliões, que corresponde ao comboio da Carne, que partem. Chega o comboio do Peixe que corresponde ao regime de abstinência, que se inicia na quarta feira de cinzas, à noite. Da janela sai a imagem de um clérigo que impõe a ordem.

Como tudo mudou em pouco mais de um século. Quem se lembra hoje destes antigos hábitos alimentares?

terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

Encontro no Café Martinho

 

O Café Martinho foi um dos locais frequentado por Rafael Bordalo Pinheiro, tal como descrevi no meu último livro Rafael de Faca e Garfo.[1] Era um local famoso onde se podiam encontrar várias figuras importantes da época, como Almeida Garrett, Bulhão Pato, Júlio de Castilho, Camilo Castelo Branco, Júlio César Machado, Guerra Junqueiro entre outros. Até Eça de Queirós, no livro A Relíquia nos relatou a sua importância.

A mesma ideia transmitiu também Rafael Bordalo Pinheiro, ao publicar em A Paródia de 5 Fevereiro de 1902 uma imagem de “Os três parlamentos” que eram, nem mais nem menos que São Bento, São Carlos e o São Martinho, numa referência humorística à influência das pessoas que se cruzavam nesses espaços.

Este café devia o nome ao facto de ter sido fundado por Martinho Bartolomeu Rodrigues, em 1846. Era considerado o mais importante café de Lisboa, situando-se no actual Largo D. João da Câmara (antigo Largo Camões). Inicialmente tinha uma grande sala com arcos, sendo as colunas revestidas com espelhos de Veneza.

Era conhecido pelas torradinhas feitas com pão de Meleças, o chá verde com limão e a neve. Bulhão Pato nas suas Memórias conta-nos que “as senhoras atravessavam até à sala interior, para tomarem neve n’uma estufa!».

Esta neve era proveniente de um depósito que o proprietário possuía, uma vez que era contratador oficial de fornecimento de gelo, pelo menos desde 1829. Fornecia também um outro local de comércio do mesmo proprietário, o Café da Arcada. Mais tarde, mudaria o seu nome ficando conhecido pelo actual “Martinho da Arcada”, situado numa esquina da Praça do Comércio.

Em 1905 entrou em obras o que gerou controvérsia e críticas. Mas apesar disso as imagens de 1910 mostram a sua beleza, ao gosto Art Nouveau.

Arquivo fotográfico da CML: PT/AMLSB/CMLSBAH/PCSP/004/LSM/000820

Esta peça, que tive a sorte de adquirir há poucos dias, será da fase anterior ao período das obras. Trata-se de uma fruteira de pé, em porcelana branca com o nome deste café na taça e na base, onde se pode ler “Martinho” em dourado. 

A marca na base Limoges. WG & Co, indica-nos que foi feita em França por Wilhelm Guérin (1838-1912), natural de uma local perto de Limoges, que começou por alugar uma oficina, em 1836, em Limoges, onde produzia peças para exportação.

Marcas na base
Por volta de 1872, Guérin assumiu a direcção da oficina de porcelana de Lebron & Cie e, em 1877, comprou uma outra fábrica de porcelana na Rue du Petit-Tour, igualmente em Limoges. A fábrica desenvolveu-se e, em 1903, os dois filhos de Guérin, William e André, entraram empresa, de onde provém o “Co” da marca. Em 1911 esta empresa fundiu-se com a fábrica Pouyat, e tornou-se na Guérin & Cie.

Assim sendo, e para abreviar a história, podemos concluir que esta peça faria parte do serviço em utilização no Café Martinho, tendo sido adquirida antes das obras. Segundo um pormenor da fotografia existente no Arquivo fotográfico após a remodelação um serviço idêntico continuava  a ser usado, na sala de jantar. 

Pormenor da fotografia com um prato com cartela idêntica

Pode ver-se um prato sobre a mesa em porcelana branca como o desenho e a palavra Martinho, idêntica à da fruteira aqui mostrada.  Felizmente esta escapou e foi parar a boas mãos.



[1] Museu Bordalo Pinheiro. EGEAC. 2024: 17-21.

domingo, 19 de janeiro de 2025

Associação de ideias

 

Coincidências! Olhei para o cartaz dos Açores e chamou-me à atenção a Mulher do capote, numa das extremidades da Ilha Terceira. Com o seu traje tradicional, tingido de azul característico, transforma-se numa figura enigmática.

Nem de propósito. Há uma semana que ando a lavar a garrafa com a mesma figura, onde o licor de maracujá, com vários anos, décadas na verdade, secou e se transformou num líquido viscoso.

O dia está escuro e as fotografias ficaram péssimas. Mas decidi associar as duas. Faz sentido!.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025