Durante este fim-de-semana
estive em Castelo Rodrigo e tive o prazer de descobrir um doce que desconhecia.
Ao pequeno-almoço, na agradável Casa da
Cisterna, onde fiquei, foi-me apresentada uma variedade de doces e entre
eles um doce escuro de que gostei muito. A proprietária, a Ana Berliner,
disse-me tratar-se de Doce de bagas de
sabugueiro, cuja confecção não parece ser das mais fáceis. Percebi depois
porquê. É que as bagas têm que ser fervidas para perderem um produto tóxico que
possuem, a sambunigrina, destruída pelo cozimento, antes da confecção do doce.
Procurei saber mais sobre a utilização
da baga do sabugueiro (Sambucus nigra),
um arbusto da flora autóctone portuguesa, que se encontra por todo o país. As
bagas podem também ser usadas na preparação de guisados, pastéis, bolos e
tortas e outros produtos de panificação. São também utilizadas em compotas,
geleias, gelatinas e em xaropes, licores, vinhos e chás.Castelo Rodrigo. Casa da Cisterna ao lado da cisterna medieval
O mais interessante é que se
trata de uma planta de que se podem utilizar todas as partes, isto é, as cascas,
raízes, folhas, flores e os frutos. De tal modo era considerado útil que no
Brasil o sabugueiro era chamado “armário dos remédios”, devido aos seus
múltiplos usos. Na realidade, ao longo dos tempos os extractos de sabugueiro foram
usados para fins medicinais, culinários e cosméticos, desde os povos
pré-históricos e sendo muito popular entre os gregos e romanos, o que explica
que aquela planta fosse considerada como guardiã da saúde. Na medicina
tradicional, o sabugueiro era usado para baixar o ácido úrico e reduzir a
ocorrência de cálculos renais; em casos de febre de origem desconhecida; no
combate a gripes, rouquidão e outras queixas respiratórias; dores de dentes,
nevralgias, dores de ouvidos e de cabeça, etc.[1]
Em Portugal, a cultura do
sabugueiro era levada a cabo já pelos monges de Cister, seguramente no Mosteiro
de São João de Tarouca (séculos XII a XVIII) e pela população em geral, considerando
este um produto excelente para fins culinários e terapêuticos, tendo-se
perpetuado estes usos e costumes até hoje. Presentemente na região do Douro existem
extensas áreas de produção de baga de sabugueiro, sob a denominação “Baga do
Varosa”, reconhecida como sendo de qualidade e exportada para vários países.
No nosso caso ficámo-nos pelo
docinho, de que tive o privilégio de trazer um fraquinho para casa e, não
ficámos nada mal.
[1] Hoje existem
estudos fármaco-toxicológicos que que lhe reconhecem algumas outras
propriedades como anti-oxidantes e anti-inflamatórias.
3 comentários:
Aprende-se sempre com os seus textos. Obrigada.
Há alguns anos vi, em Ucanha, bagas de sabugueiro a secar, dispostas ao sol em redes. Disseram-me na altura que serviam para dar cor ao vinho tinto; teriam a ver com o tanino.
Disseram-me que a maior parte ia para França.
A informação foi dada por pessoas que encontrei nas ruas e a quem fiz perguntas sobre as redes de secagem.
Bom dia Ana
Para alem das plantas expontâneas ao logo das linhas de água onde em Junho colhemos a flor de sabugueiro (ou flor ou baga em Outubro) plantámos mais 120 em zonas muito humidas.
A flor desidratada e passada no moinho com crivo para tisanas é vendida para tratar as vias respiratórias e bronquios. Muito eficaz e o cheiro é muito agradável.
Adorei.
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