segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Uma factura inventário

Uma factura, mesmo que apresente poucos elementos, é quase sempre informativa. Contudo existem algumas que, pela riqueza de pormenores, nos indicam a existência de uma loja que desconhecíamos, os produtos que vendia, os preços na época, etc.

Para além do aspecto gráfico, muito cuidado nalguns casos, em especial no século XIX, podem também contar-nos uma história.

Quando fiz a investigação para o livro «Mesa Real», publicado pela primeira vez em 2000, apresentei os cabeçalhos de três facturas que encontrei na Torre do Tombo e que mostravam a evolução ao longo dos anos de uma oficina de latoaria, para fábrica de latas e depósito de conservas alimentares.

Esta factura de uma serralharia que agora me chegou às mãos, para além da sua beleza gráfica, é um verdadeiro mostruário de peças em ferro feitas pela Fábrica Lisbonense de Móveis de Ferro. Propriedade de A. P. Santos Chaves, estava situada na Rua da Palma, cuja fachada do edifício com o funcionamento no seu interior é visível na parte superior da factura. Tinha dois depósitos, um na rua Augusta e outro na Rua dos Fanqueiros, portanto bastante centrais, que deviam funcionar como locais de venda.

O mais interessante contudo diz respeito ao elencar de produtos vendidos que se imagina iriam ocupar o seu lugar numa nova casa, em 1874. Supomos uma casa para uma família com algum poder económico, uma vez que as aquisições foram feitas todas de uma vez e não progressivamente.

Lá encontramos os seguintes artigos: 3 lavatórios, com suportes para espelho e baldes respectivos; 1 bacia e um jarro; 1 bidé; 2 leitos à inglesa; 1 escarrador; 2 alguidares de zinco; 3 bacias uma delas para banho; 1 fogão de quatro bocas circular; 1 cabide para chapéus e até uma cama para bonecas.

É caso para dizer: há dias de sorte!.

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