quarta-feira, 5 de outubro de 2016

O fascínio dos alumínios. Parte 1

 
Alumínios. Exposição no Museu Municipal de Penafiel
O título, apresentado no plural, foi escolhido para falar especificamente nos utensílios domésticos de alumínio. A descoberta deste metal, o elemento 13, é recente. Produzido pela primeira vez em Copenhaga por Hans Christian Oersted, em 1825, era um produto impuro que continha potássio. Dois anos depois um químico alemão, Friedrich Wöhler, aperfeiçoou o método substituindo o sódio pelo potássio.
Escória de Alumínio. Museu Municipal de Penafiel
Este metal teve um período de grande admiração chegando uma barra de alumínio a estar exposta na exposição de Paris de 1855. Napoleão chegou mesmo a dizer que os talheres de alumínio eram reservados para os convidados de maior cerimónia. Em 1886 Charles Martin Hall conseguiu desenvolver o primeiro processo de extração do alumínio e iniciou-se a sua divulgação. No início do século XX o alumínio já tinha suplantado o cobre graças às suas propriedades. As suas virtudes são imensas: é leve, maleável, forte, resistente à corrosão, apresenta grande condutividade ao calor e à electricidade e pode ser totalmente reciclado.
Mesa com alumínios. Museu Municipal de Penafiel
Talvez por isso mesmo tenha sido o metal escolhido para ficar na lua a primeira obra de arte humana: uma estatueta de um astronauta deixado pela Apolo 15, em 1971.
Mas este metal, o terceiro em abundância na natureza, tem também um lado negro. Na sua forma solúvel (+3) é tóxico para as plantas. Não entra na constituição do corpo humano e, embora possa estar presente em alguns alimentos em pequenas quantidades, é prejudicial em maiores quantidades, como pode acontecer com o consumo de alguns aditivos alimentares ou no uso de alguns desodorizantes que são colocados sobre a pele. Ultimamente tem surgido estudos que implicam o alumínio como um factor de risco para a doença de Alzheimer, mas isso nunca foi provado.
Que seria de nós sem as ligas de alumínio indispensáveis ao fabrico de aviões e em tantos metais condutores.
Medidas de alumínio. Colecção da autora.
Contudo o alumínio deixou de ser usado nos utensílios de cozinha. De metal fascinante e moderno passou a maldito. Passou de moda. Vieram novos metais para usarmos nos talheres e na baixela de cozinha e o alumínio foi sendo esquecido. Nalguns dos tachos que usamos hoje nas nossas cozinhas ele está lá escondido na base no meio de outros metais, usado pela sua extraordinária capacidade condutora de calor que nenhum outro metal possui. Isto eu aprendi ao falar com o sr. Firmino, dono da última fábrica de alumínios de Penafiel. 
Consola com caixas para especiarias. Colecção da autora.
Este entusiasmo veio-me da visita à Exposição de alumínios que esteve presente no Museu de Penafiel e que infelizmente já acabou. Sobre isto eu falarei no próximo poste.
Devo contudo dizer que todo este meu interesse não existiria sem o fascínio que a cozinha da minha vizinha, na Covilhã, exerceu sobre mim. Quando era criança vivia ao ao lado da nossa casa o chefe dos Bombeiros, o sr. Garcia que, quando havia fogo, os Bombeiros vinham buscar num carro de incêndios. Ele descia as escadas a coxear, herança de um antigo acidente, e dirigia-se rapidamente para o carro que o aguardava já fardado com um fato escuro, um cinto de cabedal largo que lhe pronunciava o abdomen e um chapéu de bombeiro em metal dourado. Antes tocava a sirene e todas as pessoas ficavam em silêncio. Se tocava interruptamente o fogo era na cidade, se a sirene interrompia o som era nos arredores. As pessoas ouviam e diziam: “é fora”, quando era o caso e ficavam mais aliviadas.
Caixas para detergentes de louça. Ao centro a areia. Colecção da autora.
Visitei algumas vezes a cozinha desses meus vizinhos, pessoas de idade, de ar respeitável e ambos um pouco obesos para a época, fazendo sugerir que a alimentação era importante naquela casa. Das comidas nada sei mas o que ficou para sempre na minha memória foram as travessas de madeira em que se penduravam as panelas, onde estas se alinhavam em medidas crescentes e com um brilho inacreditável. Nunca mais na minha vida vi alumínios tão bem areados, palavra que espelha a forma inicialmente usada (com areia) para os tornar resplandecentes. O seu brilho era outra das características que os tornavam atraentes e nunca mais existiu baixela de cozinha tão bela. 

1 comentário:

Vladek disse...

"Este metal teve um período de grande admiração chegando uma barra de alumínio a estar exposta na exposição de Paris de 1855. Napoleão chegou mesmo a dizer que os talheres de alumínio eram reservados para os convidados de maior cerimónia. Em 1886 Charles Martin Hall conseguiu desenvolver o primeiro processo de extracção do alumínio e iniciou-se a sua divulgação."

No início a extracção de alumínio era muito difícil, o que tornava este metal muito caro. Deve ter sido essa a razão para estar presente na exposição de Paris.
Além disso, o imperador de França Napoleão III mandou fazer uma baixela em alumínio para banquetes reais que ficou caríssima!
Depois quando a extracção foi simplificada, o preço do metal desceu e o seu uso vulgarizou-se.