Há coisas e factos que tomamos por adquiridos e nem pensamos nelas. O avental é uma delas. Indispensável em todas as actividades que implicam o risco de sujar a roupa, foi cada vez mais caindo em desuso. Até dos programas de culinária, em que antigamente se podiam ver modelos variados e originais, desapareceu. Vemo-lo em ilustrações medievais presentes em actividades mais sujas ou arriscadas, como os ferreiros ou os talhantes por exemplo, que usavam os mesmos feitos em couro.
Mas nas cozinhas esteve sempre
presente. Inicialmente apenas preso na cintura, passou depois a ter uma parte
superior, segura por alfinetes, e mais tarde com alças. Mas os aventais de
serviço, usados pelas criadas de quarto, podiam apenas apresentara a parte
inferior.
Bluteau, no seu Dicionário
(1712-1723), usava a palavra antiga “avantal”. Moraes ainda usou a mesma designação para o “pano
de lançaria que as mulheres e alguns mecânicos atam pela cintura e deixam cair
para não sujarem a roupa”. Mas acrescentava: “Geralmente dizemos avental”. José
Pedro Machado, em meados do século XX, no seu Dicionário Etimológico dizia
que ainda se usava a expressão avantal no Douro, Minho e Trás os Montes.
Carolina Michaelis referia que, à letra, “era a coisa que se punha por diante”.
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| A Moda Illustrada. Jornal das famílias |
No século XIX os aventais aperfeiçoaram-se e tornaram-se mais cuidados. Os aventais nas classes sociais mais elevadas eram bordados, com cintura marcada e ajustados ao corpo com laços ou botões nas costas, acompanhando a silhueta em ampulheta da moda vitoriana.
Para além dos aventais de serviço passaram também
a usar-se os de maior cerimónia, com rendas e bordados. É verdade que, já antes,
nalguns países as senhoras usavam aventais mais cuidados, chegando a ser
pintadas com eles colocados. Mas eram apenas aventais atados à cintura.
Estes a que me refiro apresentam peitilho e são destinados a jovens de família que ajudavam a servir o chá. Ainda me lembro de quando vim para Lisboa, para a Faculdade, de uma senhora minha amiga, que sempre considerei da família, de idade avançada, me pedir para eu ajudar a servir o chá às suas amigas idosas. Era ainda muito adequado usar jovens da família e evitar a presença das criadas na sala durante esse período íntimo. E ao rever esta situação lembrei-me de uma outra em que a mãe de um amigo meu, igualmente em Lisboa nos anos 70, ofereceu um lanche a vários padres e figuras religiosas. O lanche foi servido pela filha, por mim e outras amigas da filha. De resto os livros de etiqueta do século XIX também aconselhavam que o café, após as refeições, era servido noutra sala. As bandejas eram trazidas pelas criadas e eram as jovens da família quem servia o café. Não encontrei qualquer menção a aventais para este fim, pelo que presumo que seriam mais usados na hora do lanche, que implicava um serviço mais demorado e complexo.
Aqui ficam então estes dois
belos modelos de “avental para chá ou lunch”, a fazer-nos pensar em tempos
passados.


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