quarta-feira, 29 de maio de 2019

Encontros felizes Nº1


Esta rubrica, que agora inicio, permite-me introduzir objectos ou documentos que nada têm a ver com o tema deste blogue. Como justificação podia dizer que é uma “facada” nas «Garfadas» e ficava logo integrada.
No caso presente trata-se de uma pequena caixinha de papelão que tem lá dentro um par de sapatos e umas meias de criança. Foram usados, embora por pouco tempo, como mostravam os sapatos, mas sobretudo as peúgas que necessitaram de ser lavadas e branqueadas.
A produção de “sapatinhos para crianças de colo e bonecas” era feita em Lisboa por Avelino Veríssimo Barra a que se seguiu a sua viúva. Registou um modelo de sapatinho a que chamou «Calçadinho Bijou Barra» e um modelo de botinhas ou “”botino” infantil. Na época em que a empresa era gerida pela viúva (década de 1960?) situava-se na Praça do Areeiro, 13, 4º Dtº, em Lisboa.
Imagem de postal retirado do blog Ephemera de Pacheco Pereira
É provável que esta produção estivesse anteriormente na Rua da Graça, 130, uma vez que encontrei um anúncio no Século, de 25 de Novembro de 1917, que já se referia ao «Calçadinho-Bijou-chaussure». Era então produzido pela fábrica «La Argentina» que tinha uma sucursal na Rua Augusta, 76 em Lisboa.
O Século, 25-11-1917
Teria A. V. Barra trabalhado nessa fábrica? Ou adquirido a empresa mais tarde? Dado o intervalo de tempo é apenas mera especulação porque não me foi possível coligir mais dados sobre esta produção. Encontrámos contudo na internet uma caixa semelhante à apresentada em que se referia que se tratava de uma produção exclusiva para os Grandes Armazéns do Chiado.
A história fica incompleta, mas ficou o conjunto completo da caixa com os sapatinhos para menino de colo com as suas meinhas, que fazem parte desta história.

domingo, 19 de maio de 2019

A «Taberna Vendaval» em Setúbal


Descobri-a apenas hoje mas as pessoas da terra conhecem bem este espaço. O prédio, situado numa rotunda, está ladeado por edifícios novos e encontra-se coberto por grandes painéis pintados modernos, onde foram desenhadas as entradas de uma pizzaria, que se encontra ao lado, e da própria taberna. 
Esta cobertura, com imagens de pessoas felizes a comer, deve-se à transformação do edifício onde irá nascer, presume-se, um novo prédio. No alto visualiza-se um pequeno terraço, com plantas, junto a uma chaminé, que devia servir para os habitantes da casa, espraiarem os olhos pela zona envolvente, cada vez mais citadina.
Parte da antiga taberna
Entra-se e observam-se duas pequenas salas que correspondem à zona da antiga taberna e uma outra maior que era a antiga mercearia. Esta última está cercada por armários de madeira, pintados com tinta de esmalte creme, que antes se destinavam a colocar as mercearias para venda e hoje servem de abrigo a peças decorativas. Ainda lá estão as tulhas que serviam para colocar os cereais para venda a granel. O chão está coberto por mosaicos hidráulicos da época. Nas paredes alguns objectos decorativos e, logo à entrada, um quadro em lousa, escrito a giz, informa-nos dos pratos que são servidos no dia.
Zona das antigas tulhas
A ementa é simples: carne ou peixe grelhados na brasa, acompanhados de batatas e salada mista escolhida e temperada pelo cliente, a seu gosto, na mesa. As sobremesas são as tradicionais portuguesas como o travesseiro de noiva, as farófias, etc.
Local da antiga mercearia
Peixe e carne de boa qualidade satisfazem os apetites de quem procura esta taberna, de nome e de origem. Não há marcações e forma-se bicha para conseguir comer.
Há mais de 30 anos que passou para as mãos de Ângela Duarte e depois para as suas duas filhas Vera e Cátia, que nos servem à mesa. Antes de ser restaurante era um local de petiscos como acontecia com as tabernas tradicionais.
Agora vai fechar. Deram-nos um cartão para visitarmos a «Nova Taberna Vendaval» onde anunciam «O melhor peixe assado». Dizem que vão levar os objectos que a decoram. Espero que não matem a galinha dos ovos de ouro aqui representada pela autenticidade, simplicidade e qualidade.
Espero que cumpram. Vou voltar para ver.

quarta-feira, 15 de maio de 2019

Museu Virtual: tacho duplo


Nome do Objecto: Tacho duplo 

Descrição: Utensílio de cozinha de base circular, cilíndrico, baixo e com tampa. Encontra-se dividido em dois corpos que se podem juntar possuindo cada uma das metades duas asas e tampa própria.


Material: Alumínio anodizado* e baquelite.

Época: Década de 1950- 1960
Marcas: Lateralmente encontra-se a imagem de um castelo e a designação da marca «Castelo»

Origem: Oferta de Maria Cecília Alçada Rosa (Covilhã).

Grupo a que pertence: Equipamento culinário.

Função Geral: Cozinhar alimentos.

Função Específica: Cozer legumes
Nº inventário: 3529

Objectos semelhantes: Não registados.

Observações: Existem também tachos tripartidos com a mesma função deste. Destinam-se a cozer alimentos com diferentes tempos de cozedura de forma independente mas destinados à mesma refeição. Apresentam também a vantagem de não misturar sabores.

* Não estou certa que o material com que se encontra feito o tacho esteja bem identificado. Agradeço a correcção a quem souber.

domingo, 5 de maio de 2019

A rabaça, uma planta venenosa


No último feriado fui à quinta de uma amiga onde andámos a colher favas e ervilhas. No meio das ervilhas encontramos uma planta semelhante à salsa, mas mais alta e viçosa. Por sorte perguntámos à pessoa responsável pela horta que planta era aquela. Explicou-nos que se tratava de «rabaça ou arrabaça» uma planta venenosa. Contou-nos o caso de dois jovens que, em 2018, tinham ido fazer um percurso na região de Santarém e que comeram estas plantas. Partilharam nas redes sociais que estavam a viver de plantas e raízes. A toxicidade rapidamente se fez sentir e quando os meios de socorro chegaram já os encontraram mortos.
Fiz uma pesquisa na internet e descobri um outro caso mortal com várias vacas que, no Alentejo, em 2017, morreram por comer as raízes. Os animais evitam estas plantas, mas nesse ano foi um ano de seca pelo que, depois de comerem as folhas, passaram para as raízes e morreram rapidamente. Na realidade as raízes são fortemente venenosas devido à presença de Enantetoxina. Antigamente as pessoas usavam-nas para pescar no rio, apanhando depois o peixe que morria e vinha ao cimo da água.

Mas que planta é esta? Em Portugal é conhecida por vários nomes, além dos já referidos: Embude; Nabo do diabo; Salsa-dos-rios; Cana freixa; Acibuta ou aciguta; Prego-do-diabo; Flor do vinho (gregos) e enanto-de-cor-de-açafrão. O seu nome científico é Oenanthe crocata, pertence à família das Umbelíferas e cresce em meios húmidos, como perto de riachos ou linhas de água. A sua toxicidade é semelhante à da Cicuta de que todos já ouviram falar, sobretudo pela morte do filósofo Sócrates. Actua sobre o Sistema Nervoso Central e o tubo digestivo e a taxa de mortalidade é de 70%. A morte é rápida, em cerca de três horas, e as pessoas morrem com um esgar facial que parece um sorriso e que é chamado «sorriso sardónico».


Achei que devia falar sobre a Rabaça por várias razões, mas a principal é que me espantou a minha ignorância sobre esta planta de crescimento tão frequente em Portugal. Penso que não estou sozinha nesta falta de conhecimento, pelo que seria bom partilhar esta informação. Existe um medo generalizado dos cogumelos selvagens, mas sobre as ervas venenosas (não apenas tóxicas) e as flores que têm também estas características ninguém fala. Com a mania dos citadinos de brincarem aos camponeses não será de espantar que mais casos destes possam vir a suceder.
Tanto mais que no Alentejo existe uma planta comestível que se chama Rabaça ou Arrabaça (Apium nodiflorum L.), mas que nada tem a ver com esta. Portanto não comam plantas ou flores que não conhecem. Não digam que não os avisei!
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PS: Como não contava falar sobre este assunto não fotografei a planta, pelo que todas as imagens foram tiradas da internet.