O bordado em ponto de Assis
foi muito usado durante o século XX em toalhas de mesa. É um ponto que nos é
familiar e nunca me tinha interrogado se era um ponto português ou não. Na realidade
não é. Como o nome indica é um ponto com origem na cidade italiana de Assis, bastante
recente no que respeita a bordados, uma vez que data do início do século XX.
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Foto tirada do Pinterest |
O ponto de Assis consiste em
contornar com linha preta os elementos que se querem evidenciar, leões, dragões
ou outros, deixando o interior em branco. À sua volta é feito um bordado em
ponto de cruz, numa única cor, geralmente vermelha, azul ou âmbar, o que que
vai realçar o interior não bordado.
Este ponto baseia-se num outro
o chamado ponto Holbein, precisamente porque está presente em muitas das
pinturas de Hans Holbein o Jovem (c. 1497 - 1543).
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Jane Seymour por Holbein |
Foi
um dos grandes retratistas do século XVI, tendo sido essa a função que exerceu na
corte do rei inglês Henrique VIII, desde 1535. Holbein tinha um cuidado extremo
com os pormenores e a representação do bordado presente nos trajes, tal como a das
jóias ou outros aspectos é minuciosa.
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Pormenores do retrato de Jane Seymour |
Este tipo de bordado é feito
com linha preta sobre tecido branco, com desenhos tipo arabesco e foi muito usado
durante o século XVI no vestuário das classes mais abastadas. Podemos vê-lo nos
punhos da rainha Jane Seymour (hoje no Museu Kunsthistorisches de
Viena de Áustria), no peitilho de Henrique VIII e no colarinho de
muitas blusas de pessoas pintadas por Holbein.
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Henrique VIII pintado por Holbein. Note-se o peitilho bordado |
O Holbein,
por sua vez, faz parte do conjunto dos chamados “bordados a preto” e foi também conhecido como “ponto espanhol”, mas o seu uso é também tradicional na
indumentária de alguns países nórdicos.
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Thomas Godsalve e filho por Holbein. Veja-se o colarinho do filho. |
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Retrato de um homem com chapéu vermelho por Hans Holbein |
Portanto da próxima vez que
virem um quadro de Holbein os olhos vão dirigir-se para os bordados, que
estavam lá “escondidos” e que o conjunto nos fazia não reparar nesses pequenos pormenores.
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Margaret Roper por Holbein. Metropolitam Museum |
O mesmo poderá acontecer se
virmos uma toalha de mesa com bordado em ponto de Assis, situação que é hoje cada
vez menos provável, nesta época em que o que se procura é ter pouco trabalho.