sábado, 28 de setembro de 2019

Escovas, escovas e mais escovas na Escovaria de Belomonte


Descobri a loja numa rua íngreme do Porto, numa rota diferente da que costumo fazer nas minha voltas pela cidade. Saindo do Largo de S. Domingos, onde tinha visitado o pequeno Museu da Farmácia Moreno, chamou-me à atenção a placa esmaltada de fundo branco com vários tipos de escova e as palavras «Escovaria de Belomonte» e, em baixo, o nome do fundador «António da Silva».
Era hora de almoço e encostando o nariz ao vidro para ver o interior comentei em alto: «Que pena. Está fechada». De imediato surgiu o proprietário, o sr. Rui Rodrigues que, abrindo a porta, nos convidou a entrar. 
Tenho um fascínio por escovas sobretudo depois que vi num episódio do Antique Roadshow, uma colecção de escovas, feita por uma miúda de 12 anos, com variadíssimos modelos adaptados a diferentes funções.
O sr. Rui Rodrigues, de contacto fácil e amável, contou-nos a história da pequena fábrica iniciada em 1927, em Massarelos, pelo avô de sua mulher Olinda. Em 1938 o seu pai Fernando Silva mudou-se para a Rua do Belomonte e foi o nome da rua que passou a identificar a escovaria. 
Após a sua morte ficou à frente da produção Rui Rodrigues e uma funcionária, Maria de Fátima Fonseca, que aí trabalha há mais de 40 anos. Mais tarde a eles se juntou o  filho Sérgio, designer, que imprimiu modernismo ao conceito.
Totalmente feitas à mão as escovas apresentam-se feitas em vários tipos de madeira e nelas se utilizam diferentes tipos de pêlo, como cerda de porco, crina de cavalo, pêlo de cabra, pêlo de texugo, etc.  
A produção varia com as encomendas pelo que se podem ver, a par de produtos tradicionais, como piaçabas, vassouras pequenas, de cabo, etc., escovas mais sofisticadas para fato e calçado e um sem número de escovas de que ignoramos a função.
Um pequeno mundo fascinante que dá prazer descobrir e trazer connosco uma daquelas escovas que, desde que a descobrimos, nos faz crer que não podemos passar sem ela. 


quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Frek o esfregão mágico


O conjunto encontrava-se ainda no seu saco de plástico original, gasto e já sem a transparência inicial. Ligeiramente dobrado foi necessário retirá-lo, submetê-lo a uma atmosfera húmida e endireitá-lo. Um tratamento de luxo para um simples papel publicitário, na realidade a promoção de uma amostra de esfregão de cozinha.
Desconhecia a marca Frek e não encontrei qualquer registo sobre ela. O número de telefone remetia-nos para os anos 60 e efectivamente encontrei no Diário de Governo de 13-12-1967 uma alteração de estatuto, com a entrada de novos sócios, da sociedade fundadora a «Transformadora de arames Ibérica», com sede em Sacavém.
Com o preço de 6,50 escudos o Frek, era «um produto são e higiénico e económico pela sua duração» e anunciava-se o ideal para as baterias de cozinha, louça e outro vasilhame. Era o período áureo dos objectos de cozinha em alumínio que as donas de casa gostavam de mostrar a brilhar, mas os produtores avisavam que só se devia usar com esse fim quando estivesse na «macieza adequada».
Foi um precursor dos esfregões verdes que hoje utilizamos e os promotores escolheram uma imagem do Gato Felix, o gato antropomórfico nascido em 1919, para o promover irradiando alegria ao ver a sua imagem espelhada no fundo brilhante de um fundo de tacho, seguramente de alumínio.
Sinceramente, não posso perceber como este «esfregão mágico», saído da indústria nacional, não teve o sucesso que merecia.

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Ementa para engenheiros


Confesso que à primeira vista não percebi logo que esta lista correspondia a uma ementa. Na verdade é uma ementa para uma reunião de engenheiros que terá tido lugar no Instituto Superior Técnico em 14 de Julho de 1934.
O novo projecto construído ao cimo do que viria a ser chamada a Alameda, em Lisboa, iniciado em 1927, foi obra do arquitecto Porfírio Pardal Monteiro e do engenheiro Duarte Pacheco. O ano lectivo de 1935 foi o primeiro ano em que se iniciaram as aulas nas novas instalações. Com base nesta data pensamos que a ementa possa corresponder a um lanche ou pequeno banquete, servido pela Pastelaria Bénard, sendo provável que tivesse servido para comemorar o final das aulas no antigo Instituto Técnico fundado em 1911[1].
IST. Arquivo fotográfico da CML.
Designada «Inventário de Armazém” em vez de «Ementa», pertence a um tipo de ementas com características humorísticas, adaptado aos fins ou pessoas visadas, que foram mais frequentes na primeira metade do século XX e que encontramos sobretudo em grupos ou associações masculinas.

Esperemos que o repasto tenha sido melhor do que o
Inventário de Armazém nos faz crer.



[1] Não posso excluir que se tratasse de uma comemoração da aprovação dos Estatutos da Associação dos Estudantes do Instituto Superior Técnico, que havia sido publicada no Diário do Governo em 5-3-1934 (n.º 52/1934, Série I) mas o espaço de tempo decorrido torna menos provável esta hipótese.