Pela voz da cantora Lina Maria e com acompanhamento musical da orquestra de Tavares Belo, foi gravado pela Rádio Triunfo um disco de 45 rotações intitulado «Dona de Casa».
Não encontrei qualquer registo à data mas parece tratar-se de uma gravação dos anos 60. A foto da capa é da autoria de Augusto Cabrita que foi também o responsável por outras capas de discos de sucesso na época, como os da Amália Rodrigues e de Simone de Oliveira.
Dona de Casa - Roy Lichenstein |
A ideia de «dona de casa» implicava que a mulher não exercia qualquer profissão fora de casa. A sua actividade ficava assim circunscrita ao interior do domicílio, nas suas várias facetas de mãe, mulher, mas sobretudo exercendo funções domésticas. Este último aspecto começou a desenvolver-se no final do século XIX com a redução progressiva do número de criadas.
Com a simplificação das funções domésticas por via da industrialização, no período posterior à segunda guerra mundial, começou a esperar-se mais uma feminilização da mulher no interior doméstico. A publicidade dos anos 50 a 70 apresentavam um dona de casa cuidada, exercendo a sua actividade no lar com saltos altos, cabelo arranjado e vestida com elegância.
Em Portugal o concurso «Mulher Ideal Portuguesa», iniciado em 1966 e que se manteve até 1973, pretendia escolher uma dona de casa que soubesse cozinhar, mas que fosse também elegante e culta. Nos seus conhecimentos exigia-se mesmo que soubesse fazer cocktails e tivesse noções de decoração doméstica. Da iniciativa do Clube da Donas de Casa, de que fazia parte a directora da revista com a mesma designação, incluía no júri outros nomes como o de Maria Emília Cancela de Abreu, então directora da revista Banquete.
Na foto seleccionada para a capa do disco, Lina Maria surge sóbria mas elegantemente vestida, com uma saia preta e blusa branca e com sapatos de salto alto. A mão anelada segura num bloco de apontamentos onde regista os seus próximos passos, mostrando ser uma dona de casa organizada.
Sentada no escadote, onde está pendurado um pano do pó, tem a seus pés um balde e um alguidar de plástico, símbolos da modernidade doméstica, na época.
Uma imagem surpreendente para os nosso dias, que então fazia todo o sentido. Ou não fosse Augusto Cabrita um conceituado fotógrafo.
Depois de ler este seu texto, encontrei algo que de certa forma o completa.
ResponderEliminarhttp://diasquevoam.blogspot.com/2011/09/dona-de-casa.html
Abraço amigo.
Olá, Adorei o seu blog. Muitos parabéns!
ResponderEliminarEste artigo chamou-me a atenção... há uns meses encontrei numa feira de antiguidades um carimbo do "Clube das Donas de Casa" à venda por 5 €. Se na altura tivesse conhecimento deste artigo, talvez o tivesse adquirido.
Convido-a a visitar o meu blog: http://criacoescaseiras.blogspot.com/
Beijo, Ana Caseiro
Ana Caseiro,
ResponderEliminarO interessante na vida é que o conhecimento nos permite olhar para as coisas com novos olhos.
Obrigada. Um bj